Canal Campos Macaé _ Fazendo coro com o Professor Soffiati .

Sofiatti critica obra no Campos-Macaé

Joseli Matias

“O que estão chamando de revitalização do canal Campos-Macaé não passa de um disfarce”. A afirmação do ambientalista e membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo Aristides Soffiati resume sua impressão do projeto da Prefeitura para recuperação do canal, que descartou intervenções sugeridas pelo conselho e, segundo ele, não atende a requisitos estéticos, ambientais ou históricos.


Ao ser cogitada, no início do ano, a recuperação do canal passou a ser tema de discussões no Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, que concordou com a realização das obras, desde que devidamente licenciadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Outra deliberação apresentada pelo conselho foi a inclusão no projeto da Prefeitura da reabertura do canal até o rio Paraíba, com a extinção do Parque Alberto Sampaio, que está abandonado.


— Quando a intervenção no canal veio à tona, concordamos, depois de algumas reuniões, que a obra poderia ser feita, se tivesse a liberação do Inepac, mas o plano deixa a desejar nos três requisitos. Esteticamente, o projeto é discutível, é feio. As placas de grama que serão colocadas, por exemplo, vão acabar cobrindo a visão do canal. Do ponto de vista ambiental, a despoluição do canal não está sendo cogitada nesse projeto. Para completar, o valor histórico também não é levado em conta, já que o alargamento do canal e a reabertura do trecho até o Paraíba não estão previstos. A Prefeitura já consolidou essa decisão com a instalação dos quiosques, ignorando a deliberação do conselho — destacou Soffiati.


O ambientalista reforça a crítica em relação à ponte Rosinha, que, segundo ele, dificulta a revitalização do local. “Foi um trabalho feito sem conhecimento. Principalmente a descida da pista Guarus-Centro, que cai exatamente no leito de uma antiga lagoa. Por is-so que quando chove, aquela área fica alagada”, afirmou Soffiati.


Contatado ontem, o Inepac pediu que a Folha procurasse a assessoria de comunicação da secretaria estadual de Cultura, que, por sua vez, até o fechamento desta edição, não enviou uma posição quanto à liberação das obras. A secretaria municipal de Obras também foi procurada, mas não se posicionou em relação à sugestão do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de reabertura do trecho do canal até o Paraíba, nem sobre a despoluição do valão.

Construção histórica feita pelos escravos

Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), em 2002, o canal Campos-Macaé terminou de ser construído em 1861, após 17 anos de trabalho feito por escravos, para permitir um caminho de escoamento da produção.

Na década de 90, um trecho do canal foi tapado e, apesar do protesto de moradores e ambientalistas, no local foi construído o Parque Alberto Sampaio, que será mantido pelo novo projeto e deverá passar por reformas no próximo ano.

O pedido de tombamento ao Inepac, em 2002, partiu de moradores e historiadores do município diante do anúncio de que o canal seria todo coberto na área urbana. “Na época, também tivemos que denunciar o caso ao Ministério Público Federal, mas como o fechamento do canal foi descartado, o processo foi arquivado”, conta Aristides Soffiati.

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