Matéria de 15/09/20111
Estudo realiza mapeamento digital
de áreas de mangue no litoral fluminense
Vinicius Zepeda
Áreas de manguezal são de enorme
valor ecológico. Ali se alimentam e se reproduzem, durante o ano todo,
mamíferos, aves, peixes, moluscos e crustáceos que servem de alimento para os
homens. Sua degradação serve de indicativo de mudanças climáticas que possam
estar afetando o litoral e da variação do nível do mar, além de ameaçar a
sobrevivência das espécies animais e vegetais lá existentes. Para evitar a
extinção dessas áreas e formular ações que sirvam para sua recuperação, um
projeto coordenado pelo engenheiro cartográfico e pesquisador da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj), Gilberto Pessanha Ribeiro, vem recorrendo a técnicas de mapeamento
digital, imagens de satélites e fotografias aéreas para fazer um levantamento
do que resta de mangue no litoral fluminense. O estudo conta com apoio do
edital Prioridade Rio, da FAPERJ. Até
o momento, já foram mapeados, em imagens de satélite Landsat,
remanescentes da vegetação de mangue no norte fluminense, na Região dos Lagos
e na região metropolitana do Rio de Janeiro. "No norte do estado, foram
identificados remanescentes em São Francisco do Itabapoana, onde corre o rio
Itabapoana, na região de Atafona, distrito de São João da Barra, por onde
flui o rio Paraíba do sul, além das lagoas de Grussaí, Iquipari, Açu e
Feia", afirma. Na Região dos Lagos, há remanescentes no rio Macaé, das
Ostras e São João. "Já no município de São Gonçalo, região metropolitana
do Rio, a vegetação foi mapeada no litoral, na baía de Guanabara e foz
do rio Guaxindiba, em São Gonçalo", acrescenta. O projeto agora está realizando
trabalhos de campo para confrontar imagens do satélite com a realidade local.
"Identificamos a foz dos rios Guaxindiba, Macaé, das Ostras e São João
como as mais degradadas ambientalmente. A explosão imobiliária dos últimos
anos nessas áreas é o principal fator para a degradação acelerada que vem
ocorrendo", explica Ribeiro. "Em São Gonçalo, pudemos
observar que 18% de vegetação foram subtraídos nos últimos anos. No
litoral da Região dos Lagos, essa perda foi ainda maior, com menos 32%
de vegetação de mangue na foz de importantes rios do estado", completa. Até agora, o estudo identificou a parte
norte da foz do rio Paraíba do Sul – ou seja, o ponto onde o rio encontra o
mar – como a que apresentou o maior grau de preservação. Entretanto, Ribeiro
adverte que isso parece ser por pouco tempo, já que a execução de grandes
obras de engenharia para a implantação do Complexo Portuário do Açu, no
município de São João da Barra e onde ficam as praias de Atafona e Grussaí,
ameaça a preservação e biodiversidade desses ambientes. Atualmente, 30% da
área do município pertencem a investidores particulares, nacionais e estrangeiros,
que estão projetando pólos populacionais e uma nova cidade. A expectativa é
de que a população local passe dos 30 mil habitantes atuais a 120 mil em
apenas cinco anos. São perspectivas de crescimento muito rápido e em muito
pouco tempo. "Apesar desses empreendimentos favorecerem o crescimento
econômico da região, ele também provoca um rápido e forte impacto no ambiente
costeiro e sobre as populações que nele habitam", explica Ribeiro.
"Desta forma, é essencial nosso trabalho de mapear a ocupaçãohumana
nas planícies dessa região, uma vez que se trata de solo predominantemente
instável, arenoso, pouco adequado para a agricultura e para construção civil
", complementa.
Gilberto Ribeiro ainda participa de
outra pesquisa, iniciada em 2004 e 2005 por equipe de pesquisadores da UFF,
que vem mapeando os processos de erosão marinha na praia de Atafona e o
engordamento da praia de Grussaí. A cada dois meses, ele e um grupo de
professores e alunos da UFF e da Uerj têm visitado a região e analisado o
local, por meio de coleta de material e entrevistas com moradores, para
analisar as principais causas da erosão marinha, que vem destruindo casas e
ameaçando a sobrevivência dos pescadores que habitam aquela praia.
"Aquecimento global, o fenômeno El Niño, a força do vento nordeste, a
diminuição da vazão das águas do rio Paraíba do Sul e, claro, a ação do homem
que tem alterado o cenário local, estão entre as principais razões para o
fenômeno", afirma Ribeiro. E continua: "Nosso objetivo é estimar a
velocidade e a intensidade dessa erosão nos próximos anos para buscarmos
formas de minimizar ou mesmo solucionar seus efeitos."
Ribeiro lembra que a destruição das
áreas de mangues prejudica ainda a sobrevivência das populações que dependem
do extrativismo de espécies típicas da vegetação aquática local. "No
lado sul da foz do rio Paraíba do Sul, por exemplo, mulheres de pescadores há
anos realizam uma exploração sustentável de certas plantas, como a taboa,
para usar como matéria-prima para redes, bolsas, sandálias e enfeites",
exemplifica Ribeiro. Ele ainda destaca a necessidade de elaboração de uma
maior interação do governo do estado do Rio de Janeiro com as prefeituras
municipais da região para o desenvolvimento de iniciativas que busquem aliar
políticas públicas com mapeamentos técnicos competentes. "Aspectos sobre
condicionantes oceanográficos, atmosféricos, astronômicos e meteorológicos
devem ser priorizados e registrados em bancos de dados espaciais, permitindo
a geração de séries históricas de dados físicos, medidos em determinado
campo", afirma. Outro caminho é o que vem sendo realizado em São João da
Barra, onde se vem buscando ampliar o número de estações terrestres de
medição, no âmbito da Defesa Civil municipal. "É uma forma de se
antecipar e gerir melhor, e com apoio técnico competente, situações de crises
ambientais", conclui.
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